terça-feira, 8 de maio de 2018

Origens da Islamofobia 01: Definindo o Problema




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"Maomé: uma biografia do Profeta" (ARMSTRONG, Karen)


Origens da Islamofobia 01: Definindo o Problema

Por Thiago Damasceno

Introdução

Este é o primeiro texto e o primeiro vídeo de uma pequena série sobre as origens da islamofobia, tema em voga nestes tempos de refugiados e de discursos sobre uma temível “invasão islâmica” em certos países do Ocidente. Para essa série, me baseei principalmente nesse livro, intitulado “Maomé: uma biografia do Profeta”, de Karen Armstrong. O link para compra você encontra logo acima. A partir desse estudo, defendo que as origens da islamofobia estão no período medieval, principalmente com a divulgação do denominado Mito de Mahound e nos acontecimentos das Cruzadas. Para este momento, vou definir “islamofobia” e, nos próximos textos e vídeos, falarei sobre esse mito e as Cruzadas.

Conceituando e Entendendo

O conceito de “islamofobia” não é consensual. Há várias definições. De forma simples, podemos começar conceituando islamofobia como o conjunto de preconceitos negativos, de medos, de ódios e de aversões a muçulmanos e muçulmanas e à cultura islâmica em geral.
Como aponta Araújo (2017), segundo S. Sayyid em “Uma medida da islamofobia”, a islamofobia é "como uma forma de governamentalização racializada. É mais que um preconceito ou ignorância; é uma série de intervenções e classificações que afetam o bem-estar das populações designadas como muçulmanas". Vemos que essa definição considera a dimensão política, e não só as dimensões religiosa, cultural e emocional do problema. 
Nesse quadro, quem mais sofre ataques islamofóbicos, tanto verbais quanto físicos são as mulheres, pois elas não só compõem um grupo em situação social mais vulnerável do que a dos homens como também a maioria utiliza o famoso lenço islâmico, o hijab, cobrindo a cabeça, sendo facilmente mais identificadas como adeptas do Islã.
A islamofobia é um fenômeno social grave que já atingiu grandes dimensões nos Estados Unidos e na Europa. Aqui no Brasil, ainda nem tanto, mas é claro que existe por aqui também. Sendo um medo, a islamofobia pode se expressar e se expressa de forma agressiva, tanto em discursos, falas e pensamentos quanto em ações concretas. Freud explica. Casos de atentados contra árabes e muçulmanos no mundo também por preconceito e xenofobia são vários. Lembro aqui que “árabes” e “muçulmanos” não são sinônimos, mas são bem relacionados, pois o Islã surgiu no contexto da cultura árabe e muitos árabes por todo o mundo são muçulmanos. Na hora do medo, essa associação entre árabes e muçulmanos é maior ainda.
Geralmente, a islamofobia vem de pessoas adeptas a outras religiões e culturas, ou pelo menos que se dizem adeptas de certa religião ou cultura. Contudo, no caso da islamofobia, curiosamente, um grupo que se diz islâmico, como o “Estado Islâmico” (“Daesh” em árabe), pratica atentados contra muçulmanos, logo, também pode ser visto como islamofóbico. Complicado, certo? Fica então essa questão para refletirmos.
Outro ponto importante para se dizer: islamofobia é um crime de ódio. Dos crimes de ódio, é o que mais cresce na Europa em um contexto de migração de populações muçulmanas, de atentados terroristas e também de um antissemitismo que, de fato, nunca foi superado pela Europa. O antissemitismo é o conjunto de preconceitos e aversões aos povos considerados semitas, dentre eles, judeus e muçulmanos. O termo “semita” faz alusão a vários povos, com traços culturais comuns, que compõem um mesmo conjunto linguístico. O nome vem, tradicional e, religiosamente, de Sem, filho de Noé, um dos patriarcas bíblicos (GASPARETTO JÚNIOR, 2018). 
Voltando ao contexto europeu...
Imigrantes que professam a fé islâmica e seus descendentes relatam o crescimento da violência e o medo de saírem nas ruas e serem marginalizados. Alguns dados para exemplificar: em 2014, Londres registrou um aumento de 70% de ataques contra muçulmanos em relação ao ano anterior; e em 2015 na Espanha, 40% dos delitos vinculados a crimes de ódio foram registrados como islamofobia (CUNHA, 2017).
Antes de finalizar este primeiro texto, destaco uma importante consideração de Reginaldo Nasser, professor do Departamento de Relações Internacionais da PUC de SP. Ele defende que devemos considerar o quesito classe social ao se falar em islamofobia, pois esse fenômeno só ocorre com muçulmanos pobres. Em relação a muçulmanos ricos, tanto no Oriente quanto na Europa, pouca coisa ou quase nada acontece. A islamofobia seria então um fenômeno mais relacionado à questão de classes sociais, logo, aos pobres e aos não ricos (NASSER, 2017).

Considerações Finais

A islamofobia, enquanto crime contra indivíduos e grupos, precisa ser combatida tanto no nível do discurso quanto no campo de políticas públicas. Esse crime de ódio não deve ser tolerada se o que procuramos é construir sociedades mais justas e igualitárias.
Muito obrigado pela atenção neste primeiro texto da série Origens da Islamofobia Amanhã será lançado o texto e o vídeo onde vamos, especificadamente, procurar traços desse medo ao Islã no decorrer do tempo.
Um abraço e até logo!

Referências

ARAÚJO, Marta. Vamos falar sobre islamofobia? In: Público, 01 de dezembro de 2017.
Acesso em 29/04/18.

ARMSTRONG, Karen. Maomé: uma biografia do Profeta. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
CUNHA, Carolina. Religião: Islamismo é a crença que mais cresce no mundo. In: UOL Vestibular, 14 de abril de 2017.
Acesso em: 29/04/18.

GASPARETTO JÚNIOR, Antônio. Semita. In: InfoEscola.
Acesso em 29/04/18.

NASSER, Reginaldo. Chute 035: Reginaldo Nasser discute o Oriente Médio. In: Chutando a Escada (podcast), 29 de dezembro de 2017.
Acesso em: 27/04/18.

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