Por Thiago Damasceno
Fim de tarde em
Anápolis: um friozinho básico, o Sol dando seus últimos passos na dança celeste
e a Lua Crescente começando a se exibir. Desci do carro dando de cara com essa bela
Lua e uma placa que dizia “Centro Islâmico de Anápolis”. Era 24 de maio de
2018, quinta-feira, momento de conhecer pessoalmente o xeique Nasser Sahim,
responsável pela até agora única mesquita no estado de Goiás.
Apertei o interfone
várias vezes. Até pensei que aquilo não daria em nada, pelo menos naquele dia,
mas então o portão se abriu. Avistei o xeique ao longe, no estacionamento do
templo islâmico. Ele também acenou. Trocamos os clássicos “As salamu alaikum!” e apertos
de mão e de ombro.
- Seja bem-vindo! – disse em
português, numa entonação que demonstrava que ele não era brasileiro.
Fomos
até seu escritório repleto de estantes de livros, cartazes, sofás e uma mesa
abarrotada de papéis e com um computador. Ele convidou-me para sentar em um dos
sofás, trocamos mais algumas palavras e então ele me encheu de livros de
Teologia Islâmica e um calendário feito pela FAMBRAS (Federação das Associações
Muçulmanas do Brasil) comparando nossos meses de maio e junho deste ano com o vigente
mês do ramaḍān do ano islâmico atual, 1439. O calendário também tinha os
horários corretos para cada oração.
Nesse momento, lembrei, de mim para mim, a busca por refúgio,
por parte do Profeta, da cidade de Meca para até então Yatrib (futura “Medina”),
em 622, episódio conhecido como “Hégira”. Anos depois, durante o Califado de
Omar (634-644), a Hégira foi oficializada como o marco inicial do calendário
islâmico, sendo o ano cristão 622 correspondente ao ano 01 islâmico. Naquele califado
em expansão, era preciso não só uma forma de registro do tempo, mas também
elementos de identidade própria ao Islã, uma fé em constante crescimento social
e institucional. Nesse processo, nada melhor do que um calendário específico
para aquela religião/aquele poder político.
Mas não vou me deter muito em digressões sobre temporalidades...
Voltemos à minha visita.
Xeique Nasser é um sacerdote islâmico
sunnita, nascido no Egito. Está no Brasil há 9 anos. Trabalhou, primeiramente,
no Mato Grosso do Sul, depois veio para Anápolis, que recebeu imigrantes árabes
e muçulmanos em quantidade considerável, talvez por isso seja a única cidade de
Goiás que até agora tem uma mesquita. Em Trindade há uma muṣṣāla (sala de oração) e em Jataí há um centro
religioso que, segundo o xeique Nasser, não chega a se constituir como uma
mesquita. Perguntei como estava o movimento de fiéis na mesquita neste ramaḍān e ele disse que estava bom, e me convidou para um jantar de
quebra-de-jejum dali a dois domingos.
No decorrer da conversa me
apresentei, claro, como historiador formado pela UEG (Universidade Estadual de
Goiás) de Anápolis e que agora é estudante da UFG (Universidade Federal de
Goiás) em Goiânia. Também falei que trabalho no IFG (Instituto Federal de
Goiás), Câmpus Anápolis, onde também atuo como pesquisador. Isso tudo foi a introdução
para meu objetivo acadêmico principal: fazer uma pesquisa sobre a mesquita (ou
algo na área).
O xeique gostou da ideia. Disse que
me ajudaria e já me deu algumas informações: a mesquita foi fundada em 1975 e
seu terreno doado por um não muçulmano. Ele falou muito sobre esse bem feitor,
mas não consegui entender seu português muito bem. Mas entendi quando ele disse
que depois me mostraria fotos da época da fundação do templo e alguns
documentos. Isso é alegria para historiador!
Sendo assim, considerei esse encontro um bom primeiro contato. Espero
que seja só o início de um bom e longo convívio.
Até o próximo relato de pesquisa!