quinta-feira, 14 de junho de 2018

Al Ḥurūf: Relatos de Pesquisa #02 – conhecendo o xeique da Mesquita de Anápolis



Por Thiago Damasceno

Fim de tarde em Anápolis: um friozinho básico, o Sol dando seus últimos passos na dança celeste e a Lua Crescente começando a se exibir. Desci do carro dando de cara com essa bela Lua e uma placa que dizia “Centro Islâmico de Anápolis”. Era 24 de maio de 2018, quinta-feira, momento de conhecer pessoalmente o xeique Nasser Sahim, responsável pela até agora única mesquita no estado de Goiás.
Apertei o interfone várias vezes. Até pensei que aquilo não daria em nada, pelo menos naquele dia, mas então o portão se abriu. Avistei o xeique ao longe, no estacionamento do templo islâmico. Ele também acenou. Trocamos os clássicos “As salamu alaikum! e apertos de mão e de ombro.
- Seja bem-vindo! – disse em português, numa entonação que demonstrava que ele não era brasileiro.
            Fomos até seu escritório repleto de estantes de livros, cartazes, sofás e uma mesa abarrotada de papéis e com um computador. Ele convidou-me para sentar em um dos sofás, trocamos mais algumas palavras e então ele me encheu de livros de Teologia Islâmica e um calendário feito pela FAMBRAS (Federação das Associações Muçulmanas do Brasil) comparando nossos meses de maio e junho deste ano com o vigente mês do ramaān do ano islâmico atual, 1439. O calendário também tinha os horários corretos para cada oração.
Nesse momento, lembrei, de mim para mim, a busca por refúgio, por parte do Profeta, da cidade de Meca para até então Yatrib (futura “Medina”), em 622, episódio conhecido como “Hégira”. Anos depois, durante o Califado de Omar (634-644), a Hégira foi oficializada como o marco inicial do calendário islâmico, sendo o ano cristão 622 correspondente ao ano 01 islâmico. Naquele califado em expansão, era preciso não só uma forma de registro do tempo, mas também elementos de identidade própria ao Islã, uma fé em constante crescimento social e institucional. Nesse processo, nada melhor do que um calendário específico para aquela religião/aquele poder político.
Mas não vou me deter muito em digressões sobre temporalidades... Voltemos à minha visita.
            Xeique Nasser é um sacerdote islâmico sunnita, nascido no Egito. Está no Brasil há 9 anos. Trabalhou, primeiramente, no Mato Grosso do Sul, depois veio para Anápolis, que recebeu imigrantes árabes e muçulmanos em quantidade considerável, talvez por isso seja a única cidade de Goiás que até agora tem uma mesquita. Em Trindade há uma muṣṣāla (sala de oração) e em Jataí há um centro religioso que, segundo o xeique Nasser, não chega a se constituir como uma mesquita. Perguntei como estava o movimento de fiéis na mesquita neste ramaān e ele disse que estava bom, e me convidou para um jantar de quebra-de-jejum dali a dois domingos.
            No decorrer da conversa me apresentei, claro, como historiador formado pela UEG (Universidade Estadual de Goiás) de Anápolis e que agora é estudante da UFG (Universidade Federal de Goiás) em Goiânia. Também falei que trabalho no IFG (Instituto Federal de Goiás), Câmpus Anápolis, onde também atuo como pesquisador. Isso tudo foi a introdução para meu objetivo acadêmico principal: fazer uma pesquisa sobre a mesquita (ou algo na área).
            O xeique gostou da ideia. Disse que me ajudaria e já me deu algumas informações: a mesquita foi fundada em 1975 e seu terreno doado por um não muçulmano. Ele falou muito sobre esse bem feitor, mas não consegui entender seu português muito bem. Mas entendi quando ele disse que depois me mostraria fotos da época da fundação do templo e alguns documentos. Isso é alegria para historiador!
Sendo assim, considerei esse encontro um bom primeiro contato. Espero que seja só o início de um bom e longo convívio.
Até o próximo relato de pesquisa!