segunda-feira, 21 de maio de 2018

Explicando o Ramadan



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“Maomé: uma biografia do Profeta” (ARMSTRONG, Karen)

“Uma História dos Povos Árabes” (HOURANI, Albert)

“Diccionario de Historia Árabe e Islámica” (MAÍLLO SALGADO, Felipe)



Explicando o Ramadan


Por Thiago Damasceno

Ramadan! Já ouviu essa palavra, certo? Mas o que essa palavra nomeia: um mês? Um tipo especial de jejum? Quando começou? Fiquem calmos e respirem fundo porque hoje vamos aprender sobre isso.

Introdução

O Islã tem 5 pilares: a fé (ou testemunho da fé), a oração, o zakat (que pode ser entendido com um tributo social e religioso), o jejum durante o Ramadan e a peregrinação a cidade santa de Meca.
          "Ramadan" é o nome do nono mês do calendário islâmico. Na ordem dos meses, é como se fosse o mês de Setembro do calendário cristão. Enquanto que o calendário cristão é solar, o calendário islâmico é lunar, baseado nas observações da Lua, por isso o ano islâmico tem, ao todo, 354 dias, podendo ter 6 meses com 30 dias e outros 6 meses com 29 dias. Sendo assim, o jejum do Ramadan começou na semana passada, exatamente na quinta-feira, dia 17 de maio. O número total de dias do mês vai depender das observações da Lua. Lembrando que estamos no ano islâmico 1439, ou seja, no ano 1439 após a Hégira do Profeta. 
Uma curiosidade: "Ramandan" é uma convenção de pronúncia em português, ou pelo menos em boa parte do mundo ocidental. A pronúncia correta, em árabe clássico e em sentido religioso é "Ramaḍān" ou  "Romaḍān". Em ambas as pronúncias, o "ḍ" é grave, pesado: "ḍān". 
 Há essas duas pronúncias do r com o som da vogal a, “rá”, ou com o som da vogal “o”,“ró”. Eu prefiro falar com “rá”: Ramaḍān. Aqui, obedecendo ao uso comum da palavra, vou utilizar “Ramadan” mesmo, mas lembrando, a pronúncia em árabe clássico é “Ramaḍān” ou “Romaḍān”.
No Ramadan, os muçulmanos devem evitar algumas coisas, devem se abster de algumas coisas do nascer ao pôr-do-Sol, o que dá aí um período de mais ou menos 12 horas por dia. Em certos países, cerca de 18 horas por dia. Logo, as ideias de jejuar o dia inteiro e durante todo o mês são más informações.
E do que os muçulmanos devem se abster? De comida, de bebida, de relações sexuais, de pensamentos pecaminosos, de mentiras e de demais coisas vistas como pecaminosas. Para saber sobre todas essas proibições é preciso um estudo mais aprofundado sobre teologia islâmica. Neste texto, quero apenas iniciar uma explicação do tema, então saibam isso: o Ramadan é o nono mês do calendário islâmico, quando os muçulmanos devem, da alvorada ao pôr-do-Sol, fazer jejum de comidas, bebidas, sexo, mentiras, dentre outras coisas.
Lembrando que o ano cristão 622 é equivalente ao ano 1 islâmico. No ano cristão 624, ou ano islâmico 2, o jejum do Ramadan passou a se tornar obrigatório para todo muçulmano e muçulmana que tenham atingido a puberdade e que tenham saúde física e mental.

Regras e Tradições

Até agora tudo entendido! Mas e quem não puder jejuar? O Islã também tem regras para isso (e para outros diversos temas e casos). Para quem estiver doente, for idoso, estiver em viagem ou grávida ou amamentando é permitido a quebra do jejum, mas o jejum deverá ser realizado, pelo mesmo número de dias, em outra época do ano, em um período mais propício para essa pessoa em condições especiais. Se, mesmo assim houver incapacidade física para realizar o jejum, o fiel deve alimentar uma pessoa necessitada, sendo ela muçulmana ou não, para cada dia não jejuado.
O Ramadan é o mês santo por excelência dos muçulmanos, pois é nele que se comemora a Noite do Decreto (Al-laylatu al-qadr), quando, segundo as tradições religiosas, Deus autorizou a descida de Sua Palavra, o Alcorão, aos homens. Então, o Ramadan não deixa de ser uma festividade religiosa.
Como consequência da Noite do Decreto, houve a Revelação da mensagem divina ao Profeta.
Conta uma tradição que, na chamada Noite do Poder ou Noite do Destino, enquanto meditava em uma das cavernas nas cercanias de Meca, o arcanjo Gabriel apareceu a Muḥammad ordenando-o a recitar a mensagem divina. Mesmo sendo iletrado, Muḥammad recitou a palavra de Deus pela primeira vez a partir do que ouviu do Arcanjo Gabriel. Isso foi o início da atividade religiosa do até ali mercador. Acredita-se que era o ano de 610 e que Muḥammad tinha cerca de quarenta anos. Daí em diante, ele divulgou sua mensagem: só há um Deus, Criador de tudo, todos e de todas as coisas.
Mais uma curiosidade: antes do advento do Islã, os árabes politeístas também consideravam o Ramadan como mês sagrado, sendo também comum nesse período a prática do jejum. O Islã ressignificou as atividades religiosas do mês, ou seja, lhe deu novos significados e sentidos, associando-as ao monoteísmo defendido por Muḥammad.

Espiritualidade e Memória

 O Ramadan tem forte significado espiritual para a Umma, a comunidade dos muçulmanos, e é o mês em que se considera que a graça de Deus flui sobre a comunidade dos fiéis. Vejamos alguns significados espirituais desse mês.
No Ramadan, o jejum é encarado como um método de purificação espiritual e pessoal. Provando os desconfortos mundanos, mesmo por um curto período, 1 mês, o fiel pode adquirir simpatia pelas pessoas necessitadas e, ao mesmo tempo, desenvolver sua vida espiritual.
O Ramadan é um mês de reflexão espiritual no qual os muçulmanos devem se dedicar ainda mais à humildade, às boas ações, à caridade e à generosidade. É tempo de autocontrole e autodisciplina, tempo para o fiel educar o corpo e a mente para vencer os desejos humanos e se aproximar do Divino. Por isso, não é raro não-muçulmanos serem convidados para a quebra do jejum e para demais eventos envolvendo o mês sagrado. Em países oficialmente islâmico e/ou, de maioria muçulmana, é comum que a quebra do jejum, ou seja, a refeição após o pôr-do-Sol, seja um evento coletivo grande, uma atividade social e tanto, na qual as pessoas são convidadas umas às casas das outras para comer.  Logo, os significados do Ramadan envolvem atividades de partilha com o próximo, de comunhão coletiva e social, desde com a comunidade mais próxima dos muçulmanos, seus vizinhos, muçulmanos ou não, à comunidade maior dos fiéis em certa localidade.
Assim, como defende o historiador Felipe Maíllo Salgado (2013), o Ramadan é, para a comunidade muçulmana, um testemunho de unidade, o que dá identidade à Umma, e também um testemunho de solidariedade.
Para finalizar, ainda conforme Maíllo Salgado (2013), no decorrer do Ramadan também são lembrados outros eventos e/ou narrativas. Exemplos: os xiitas relembram o nascimento de Husayn, neto do Profeta; a morte de Ali, primo e genro do Profeta; e ambos, xiitas e sunnitas, rememoram a morte da primeira esposa do Profeta, Khadija; a Batalha de Badr, que foi a primeira batalha entre os muçulmanos e os habitantes de Meca e a tomada de Meca pelos muçulmanos.
  
Referências

ARMSTRONG, Karen. Maomé: uma biografia do Profeta. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

HAYEK, Samir El. Compreenda o Islam e os muçulmanos. Edição especial do Instituto Latino-Americano dos Estudos Islâmicos – Brasil; Supervisão Mabarrat “Manábi´il Khair” – Kuwait.

HOURANI, Albert. Uma história dos povos árabes. 2 ed. São Paulo: Companhia das Letras,
1994.

MAÍLLO SALGADO, Felipe. Diccionario de historia árabe & islámica. Madrid: Abada Editores, 2013.