quarta-feira, 16 de junho de 2021

Crônica: Vacina de Pirro

 

          A expressão “Vitória de Pirro” surgiu com o triunfo do general grego Pirro, também rei de Epiro e da Macedônia, sobre o exército romano na Batalha de Ásculo em 279 a.C. Nesse conflito, os romanos perderam 6 mil homens e, os gregos, 3.500, um enorme número, apesar do êxito grego. Com esse resultado, Pirro teria dito: “Mais uma vitória como essa, e estou perdido!”.  Assim, “Vitória de Pirro” passou a indicar um triunfo com alto custo, que pode até se aproximar de uma derrota. Tive essa sensação agridoce ao me vacinar contra a Covid-19: recebi uma vacina de Pirro. Mais uma pandemia como essa, e estaremos mais perdidos ainda!

            Não me entendam mal: defendo a vacinação e o SUS, mas não consigo sentir alegria genuína com minha vacinação pessoal porque muitos já morreram e, infelizmente, muitos outros morrerão. A maioria dessas mortes poderiam ter sido evitadas se o governo federal agisse com um mínimo de boa vontade e decência e que utilizasse a estrutura estatal para cuidar do seu povo. Como não temos isso, estamos chegando às 500 mil mortes por Covid-19 no país.

Por isso não estou genuinamente alegre. Na verdade, estou mais aliviado do que alegre. Aliviado porque comecei minha imunização, mas não consigo sentir alegria de fato sabendo que tantos não tiveram e nem terão o mesmo privilégio que eu tão cedo devido à execução da política de morte do governo Bolsonaro. Não consigo falar sobre esse alívio com a minha vacinação sem sentir uma espécie de culpa, pois vivemos um momento em que estar alegre com a vacinação pessoal pode soar quase como um desrespeito aos mortos e aos enlutados.

Estou amargo? Sem dúvidas. Tempos amargos produzem pessoas amargas, e é preciso muita espiritualidade para irmos além da amargura deste nosso tempo, um tempo onde ser pessimista e ser realista viraram a mesma coisa e o otimismo virou a negação da realidade e, por isso mesmo, uma espécie de refúgio na covardia. A cada dia, sobreviver vem sendo um privilégio. Todo santo dia me pergunto como este país ainda está de pé!

Assim como pessimismo e realismo viram sinônimos, ser bolsonarista e idiota e perverso, também. Como pode Bolsonaro ainda ter tanto apoio? Como podem desejar tanto o mal ao próximo? Eles acham que a solidariedade é um pecado de comunistas destruidores da pátria, quando na verdade a solidariedade é um fator civilizacional. Não chegamos até aqui negando auxílio uns aos outros. Precisamos uns dos outros para viver, em diferentes níveis. Mas infelizmente, também chegamos onde estamos odiando e matando uns aos outros. A civilização tem seus vícios e suas virtudes, seus pecados e suas benevolências.

Espero que em breve os ventos da benevolência e da solidariedade soprem por aqui e que tudo de ruim na nossa política e vida cotidiana seja varrido para bem longe. Estou sendo um otimista me refugiando na covardia? Talvez, mas acho que me estou me refugiando mais nos sonhos e desejos por um país mais humanizado e imunizado.

Viva a vacinação pública! Viva o SUS! Viva todos os servidores e servidoras públicas que trabalham em prol da vacinação em massa! Fora Bolsonaro e toda sua corja!

Thiago Damasceno, 16 de junho de 2021

Gostou dessa crônica? O que acha de eu continuar escrevendo sobre política, sociedade, cotidiano e outros temas relacionados à história? Comente aqui ou nas redes sociais do História na Medina! 

Nenhum comentário:

Postar um comentário