A expressão “Vitória de Pirro” surgiu com o
triunfo do general grego Pirro, também rei de Epiro e da Macedônia, sobre o
exército romano na Batalha de Ásculo em 279 a.C. Nesse conflito, os romanos
perderam 6 mil homens e, os gregos, 3.500, um enorme número, apesar do êxito grego.
Com esse resultado, Pirro teria dito: “Mais uma vitória como essa, e estou
perdido!”. Assim, “Vitória de Pirro” passou
a indicar um triunfo com alto custo, que pode até se aproximar de uma derrota.
Tive essa sensação agridoce ao me vacinar contra a Covid-19: recebi uma vacina
de Pirro. Mais uma pandemia como essa, e estaremos mais perdidos ainda!
Não
me entendam mal: defendo a vacinação e o SUS, mas não consigo sentir alegria
genuína com minha vacinação pessoal porque muitos já morreram e, infelizmente, muitos outros
morrerão. A maioria dessas mortes poderiam ter sido evitadas se o governo
federal agisse com um mínimo de boa vontade e decência e que utilizasse a
estrutura estatal para cuidar do seu povo. Como não temos isso, estamos chegando
às 500 mil mortes por Covid-19 no país.
Por isso não estou genuinamente alegre.
Na verdade, estou mais aliviado do que alegre. Aliviado porque comecei minha
imunização, mas não consigo sentir alegria de fato sabendo que tantos não
tiveram e nem terão o mesmo privilégio que eu tão cedo devido à execução da
política de morte do governo Bolsonaro. Não consigo falar sobre esse alívio com
a minha vacinação sem sentir uma espécie de culpa, pois vivemos um momento em
que estar alegre com a vacinação pessoal pode soar quase como um desrespeito
aos mortos e aos enlutados.
Estou amargo? Sem dúvidas. Tempos
amargos produzem pessoas amargas, e é preciso muita espiritualidade para irmos
além da amargura deste nosso tempo, um tempo onde ser pessimista e ser realista
viraram a mesma coisa e o otimismo virou a negação da realidade e, por isso
mesmo, uma espécie de refúgio na covardia. A cada dia, sobreviver vem sendo um
privilégio. Todo santo dia me pergunto como este país ainda está de pé!
Assim como pessimismo e realismo
viram sinônimos, ser bolsonarista e idiota e perverso, também. Como pode
Bolsonaro ainda ter tanto apoio? Como podem desejar tanto o mal ao próximo?
Eles acham que a solidariedade é um pecado de comunistas destruidores da pátria,
quando na verdade a solidariedade é um fator civilizacional. Não chegamos até
aqui negando auxílio uns aos outros. Precisamos uns dos outros para viver, em
diferentes níveis. Mas infelizmente, também chegamos onde estamos odiando e
matando uns aos outros. A civilização tem seus vícios e suas virtudes, seus
pecados e suas benevolências.
Espero que em breve os ventos da
benevolência e da solidariedade soprem por aqui e que tudo de ruim na nossa
política e vida cotidiana seja varrido para bem longe. Estou sendo um otimista
me refugiando na covardia? Talvez, mas acho que me estou me refugiando mais nos
sonhos e desejos por um país mais humanizado e imunizado.
Viva a vacinação pública! Viva o SUS! Viva todos os servidores e servidoras públicas que trabalham em prol da vacinação em massa! Fora Bolsonaro e toda sua corja!
Thiago Damasceno, 16 de junho de 2021
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